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Patologias Uterinas



Endometriose

Esta doença afecta cerca de 7% das mulheres, caracterizando-se pelo depósito de tecido endometrial em locais exteriores ao útero (cavidade abdominal, ossos, pulmão, etc). Estes fragmentos de tecido são expelidos pelo infundíbulo da trompa para a cavidade pélvica, onde se estabelecem. A taxa de endometriose nos ovários é cerca de 80% dada a proximidade estrutural. Por outro lado, as células endometriais podem ter acesso a vasos linfáticos e sanguíneos (veias), através dos quais são transportadas para nódulos linfáticos regionais ou locais mais distantes (ex. pulmões e ossos). Seja qual for a sua localização, este tecido endometrial está sujeito a mudanças induzidas pelos ciclos endócrinos o que significa que prolifera sob a influência de níveis de estrogénios e progesterona elevados e sofre necrose e sangramento quando estes níveis declinam, podendo originar irritação peritoneal e dor durante a menstruação (dismenorreia). Após a hemorragia, a organização do sangue coagulado poderá produzir adesões entre superfícies de órgãos afectados e paredes pélvicas, causando dor pela restrição de movimento normal das vísceras durante exercício físico, defecação e diurese.
A endometriose pode causar infertilidade devido à ruptura da superfície ovárica e obstrução das trompas de Falópio. Em alguns casos, formam-se quistos com sangue coagulado nos ovários.
O tratamento consiste em anticoncepcionais e intervenção cirúrgica. As mulheres com esta patologia melhoram muito quando conseguem engravidar, pois durante essa fase há diminuição dessas alterações.

Carcinoma cervical


Patologias do útero
O carcinoma do colo do útero tem uma evolução lenta (5-20 anos), havendo uma alteração progressiva das células do colo do útero. Surge em mulheres jovens, que iniciam cedo a vida sexual e que têm múltiplos parceiros. A incidência de carcinoma cervical tem um pico aos 30 anos enquanto que o carcinoma invasivo ocorre aos 50 anos.
O cérvix corresponde ao terço inferior do útero. A porção que se projecta na vagina proximal é o exocérvix enquanto que a região adjacente ao corpo do útero designa-se por endocérvix. O exocérvix está protegido por uma camada epitelial escamosa e estratificada sob a qual existe uma camada de células de reserva que substitui as células que descamam da superfície. O endocérvix é, por seu turno, revestido por uma simples camada epitelial colunar. É sobretudo na zona de transição entre o endocérvix e o exocérvix que se desenvolve o carcinoma cervical.
As alterações do epitélio do exocérvix surgem devido à exposição a vários agentes irritantes vaginais como alterações de pH, mudanças dos níveis de estrogénios, trauma devido a coito e parto. Consequentemente, o epitélio do exocérvix sofre um espessamento e reforço adaptativo originando uma metaplasia escamosa, conhecida como zona de transformação a partir da qual frequentemente se desenvolve o carcinoma. O desenvolvimento do carcinoma invasivo a partir das células metaplásicas da zona de transformação demora um período de anos e envolve uma sequência de transformações. As mudanças iniciais incluem displasia das células nas camadas profundas com as células mais superficiais retendo a sua aparência normal. Em estadios mais avançados, a superfície torna-se pleomórfica e todas as camadas epiteliais apresentam displasia. Segue-se a transformação crítica da displasia em neoplasia, com um aumento de anaplasia e características extremas de pleomorfismo num carcinoma em pleno desenvolvimento em todas as camadas. Neste ponto, o tumor está confinado ao epitélio – carcinoma in situ. A não ser que haja intervenção atempada, o tumor invade os tecidos adjacentes, rompendo a membrana basal. Com uma invasão extensa, os órgãos adjacentes são afectados e o acesso aos vasos linfáticos é alcançado, seguindo-se metástases para nódulos linfáticos regionais, pulmão e fígado. Metástases por via hematológica são raras.



Diagnóstico/rastreio:

O teste de Papanicolau, através da recolha de uma amostra de epitélio cervical e sua análise, permite avaliar o estadio do epitélio no contexto das progressivas mudanças que antecedem a invasão. Este teste é recomendado anualmente a partir dos 18 anos ou no inicio da actividade sexual, como prevenção assim como a vacinação para o Papiloma Vírus Humano (HPV) pois associa-se a infecção (genótipos 16 e 18) ao desenvolvimento de neoplasia. Em situações de citologia anormal, é necessário confirmar o diagnóstico. Até à fase de carcinoma in situ é assintomático.

Manifestações clínicas:

Apresenta sintomatologia quando metastiza para outros órgãos:
- sangramento anormal;
- corrimento vaginal (leucorreia);
- dor abdominal (irritação e compressão de estruturas pélvicas);
- hidronefrose (por compressão do uréter) e falha renal;
- invasão das paredes junto ao recto e bexiga que levam à formação de fístulas entre estas estruturas e o útero.

Tratamento:

A detecção precoce está associada ao sucesso pois quando a neoplasia está restrita ao epitélio a sua remoção e destruição é simples. Em estadios mais avançados, pode ser necessário recorrer a histerectomia (remoção cirúrgica do útero), excisão do tumor invasor e radioterapia.

Tumores do miométrio  

Os tumores do miométrio têm essencialmente duas formas, leiomiosarcoma (forma maligna rara) e leiomioma (forma benigna comum). O seu desenvolvimento é influenciado pelos estrogéneos e progesterona, ie, durante a fase reprodutiva, pelo que aumentam de tamanho durante a gravidez e regridem na menopausa.
Leiomioma: Tumor benigno originado a partir do tecido muscular liso do útero, sendo também conhecido por fibróide. Atinge 1 em cada 4 mulheres acima dos 30 anos, sendo menos comum na raça negra. A sua causa é desconhecida embora disfunções cromossómicas possam desempenhar algum papel. Os leiomiomas variam muito em tamanho, desde formas pequenas a grandes, esféricas ou massas sem cápsula com mais de 25 cm de diâmetro. Por vezes projectam-se na cavidade intra-uterina. Dependendo da sua localização, tamanho e quantidade, podem ser assintomáticos, mesmo quando volumosos, ou produzir uma variedade de padrões de sinais e sintomas associados às estruturas pélvicas comprimidas.

Manisfestações clínicas:

- períodos menstruais prolongados com fluxo aumentado, sangramento fora do normal, algumas vezes com coágulos, podendo levar à anemia nos leiomiomas submucosos;
- dismenorreia - aumento da intensidade das cólicas menstruais;
- aumento da frequência urinária (devido à compressão da bexiga);
- dor abdominal e/ou durante o acto sexual (dispareunia;
- dor súbita quando ocorre interrupção do suprimento sanguíneo e compromisso da fertilidade;
- aumento do volume abdominal;
- nas mulheres grávidas, os miomas aumentam a frequência de aborto espontâneo assim que se inicia o desenvolvimento do feto, inércia uterina e hemorragia pós-parto.

Leiomiosarcoma: Neoplasia maligna pouco comum que surge directamente do miométrio ou do estroma endometrial que sofre diferenciação em músculo liso. Tem prognóstico reservado, devido à extensa metastização. Atinge as mulheres com mais de 50 anos (incidência máxima entre os 40 e 60 anos). Apresenta taxas de sobrevivência de apenas 20-40% após o diagnóstico, sendo que o tratamento aconselhado é a histerectomia.

Outros conceitos

Dismenorreia: dor que pode variar desde ligeiramente desconfortável até severa, interferindo com a actividade normal. É causada por contracções uterinas exageradas. O mecanismo subjacente parece depender da acção de elevados níveis de prostaglandinas sobre o miométrio presentes durante a 2ª metade do ciclo ovárico quando existem elevados níveis de progesterona. Outros músculos lisos são afectados produzindo dor de cabeça, náuseas e vómitos.

Sangramento anormal uterino: podem ocorrer anormalidades durante o período menstrual que incluem fluxo prolongado, excessivo ou escasso. Outras anormalidades, como sangramento entre períodos menstruais podem ocorrer sem que estejam associados a desconforto abdominal.
- menorragia: sangramento vaginal excessivo.
- metrorragia: sangramento vaginal irregular ou anormalmente prolongado.

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